[Dear Lover - Capítulo 5]

- Não tem que agradecer, menina. Algo me dizia que andava a precisar de um miminho.
- Conheces-me tão mas tão bem! - Nesse preciso momento, a campainha fez-se soar pela casa. - Anabela, eu vou lá, deixa estar.
- A menina tem a certeza?
- Sim, fica descansada. - Aproximei-me dela, deixando-lhe um abraço muito casto, e acorri à porta, deparando-me com uma Maria algo cansada do outro lado. - Maria?!


- Sim, sou eu. Pelo menos da última vez que vi no meu cartão de cidadão, era o que lá estava escrito.
- Ah. Ah. Ah. Que piada. Entra lá. Queres comer algo?
- Se esse algo for o bolo de cenoura da Anabela, sim por favor!
- Uh? Como é que sabes?
- Duh, pelo cheiro? Nariz de grávida não engana!
- Nariz de quê?? Maria, oh meu deus! - Olhei a jovem de alto a baixo e duas coisas me saltaram à vista: a sua pequena mas já notória barriga e o sorriso presente na sua face. Apressei-me a abraçar a morena à minha frente, já de olhos marejados. - Parabéns meu amor! Belinha, podes, por favor, trazer o mesmo lanche para a Maria?
- Claro que sim, menina. - Pude ouvir a mulher de meia idade responder à distância. Puxei a morena para o sofá onde eu estava anteriormente. Pouco depois um prato com a mesma iguaria foi colocado na mesa de descanso em frente ao sofá.
- Obrigada Belinha. Bem, mas o que te traz cá, Maria?
- É exatamente sobre este pequeno peste.
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhh é um menino?
- É.
- Aww, o Bernardo… Deve estar tão contente por ter um sobrinho.
- Está pois Nana. E é mesmo sobre isso que quero falar contigo?
- Como assim sobre isso?
- É que o Joãozinho precisa de padrinhos né e…
- Queres que te ajude a escolher, é?
- Caetana Marques! Deixa-me acabar uma frase até ao fim!
- Eita bipolaridade.
- Eu dou-te a bipolaridade, Nana. Posso falar agora?
- Chuta!
- Tal e qual o Bernardo.
- Maria! Diz lá. - A minha impaciência e súbita vontade de desviar o assunto Bernardo fizeram a morena a meu lado gargalhar sonoramente.
- Bem, eu estive a falar com o Gronita e…
- E o quê, Maria? Deixa lá o suspense de lado, sou muito nova para falecer do coração.
- Eu e o Renato queremos que sejas a madrinha do Joãozinho!
- O QUÊ? Meu deus Maria, têm a certeza?
- Claro que sim! - Muito repentinamente, uma dúvida repleta de curiosidade invadiram o meu cérebro fomento de informação.
- Maria, quem é o padrinho do João?
- Desculpa Nana mas OPADRINHODOJOÃOZINHOÉOMEUIRMÃO.
- Mais devagar, mulher. Não percebi nada.
- Antes de te dizer e de tu teres uma qualquer reação violenta, lembra-te que eu estou grávida e que esta criança que eu carrego é o teu futuro afilhado.
- M.a.r.i.a - disse, calmamente demais, algo que deverá ter assustado a morena, pelo trejeito presente na sua face. - Diz-me que não é quem eu estou a pensar, por favor?
- Uhm, o meu querido mas muito burro irmão?
- O quê?
- Meu amor, eu sei que vocês não se vêm à muito tempo, tempo demais como tu própria disseste. Mas eu quero que o meu filho cresça num ambiente feliz e recheado de amor e para ser o mais honesta possível, a tua amizade com o Bernardo era tão linda que eu não podia escolher outros padrinhos para o Joãozinho. E com o tempo, pode ser que tudo volte a ser como antes entre vocês.
- Maria, eu não sei o que dizer. - Atirei, com a voz a soluçar, enquanto fazia o maior esforço do mundo para não soltar as lágrimas que desfocavam o meu olhar.
- Diz que sim. Só e apenas isso, Nana.
- Sim!
- Obrigada! - Rematou a morena, repleta de alegria, ao passo que o meu interior se encontrava dividido por uma mescla de sentimentos. - Nana, que passa?
- Uh? Nada, não te preocupes.
- Então estás a chorar porquê, miúda?
- São lágrimas de alegria, Maria.
- Sim, e eu não te conheço desde que nasceste nem nada. É por causa do meu irmão?
- Porquê que seria por causa do Berna… Bernardo?
- Eu também tenho saudades, Nana. Eu também choro por querer o meu irmão a meu lado. Mas sei perfeitamente que tu sentes saudades dele à muito tempo. Não foi justo terem-se separado assim. Até porque se fosse hoje tenho quase a certeza que pertencias à minha família.
- E eu não pertenço?
- Pertences, mas não dessa maneira Nana.
- Então?
- Miúda, eu via perfeitamente como ambos se olhavam. Eram novinhos, sim, mas há coisas que têm de acontecer e não importa a idade.
- Maria, a gravidez está a fazer-te mal à cabeça?
- Não criatura. Eu estou a falar muito a sério. Ou pensas que eu não vi?
- O quê? - Inquiri, curiosa.
- Nana, eu lembro-me perfeitamente daquele dia de Natal.
- Que dia de natal, Maria?
- Debaixo do azevinho que costumávamos pendurar no alpendre da minha antiga casa? - Um reboliço de memórias assomaram à minha mente, fazendo-me enrubescer. - Awww, ela está a corar!
- Maria! Nós eramos miúdos!
- Tinham 13 anos. Nessa idade as hormonas já andam aos saltos. E segundo bem me lembro, o meu irmão andou todo feliz nessa semana.
- Andou?
- Andou pois. Tão feliz que irritava!


Flashback

Como vem sido tradição, a minha familia junta-se em casa do Bernardo na véspera de Natal. Por isso a minha mãe deveria andar algures em volta dos doces em conjunto com a mãe do moreno, enquanto os nossas pais estariam, com toda a certeza sentados no sofá, a discutir a época corrente de futebol. A Maria estava algures a brincar com a pequena Francisca. Eu e o Bernardo - a dupla inseparável, como vinhamos a ser conhecidos, tanto pelas nossas famílias como pelos amigos - estávamos algures no alpendre, com um cobertor no colo, uma caneca de chocolate quente nas mãos, enquanto discutiamos as parvoíces que haviam sucedido ao longo do nosso primeiro período escolar. Foi então que os nossos nomes ecoaram na casa, pela voz da Maria. Muito provavelmente precisaria de ajuda com a sua pequena irmã. Levantamo-nos lentamente, sempre de sorriso no rosto. No entanto Bernardo, sendo o trapalhão do costume, desiquilibrou-se e agarrou um dos meus braços, puxando-me para si. Ficamos tão próximos que me abstraí da realidade assim que dei conta da sua respiração junto ao meu rosto. De repente, o moreno começa a rir, fazendo-me encará-lo com um sabido olhar de confusão no rosto.
- Berna, estás a rir de quê? Tenho alguma coisa na cara?
- Não Nana. A tua cara está bem.
- Então que se passa?
- Olha para cima. - Acedi ao seu pedido e encarei o teto de madeira do alpendre, deparando-me com um pequeno ramo de azevinho. - Aquela Maria é sempre a mesma.
- Berna. O quê que isto significa?
- O quê, não sabes?
- Uh, o quê?
- Agora temos que nos beijar.
- O QUÊ?! Bernardo, vai gozar com outra. Não sou a Sofia!
- Nana, estou a falar a sério. A tradição é mesmo essa.
- E agora?
- Queres quebrar a tradição?
- Uhm, não? Sim? Ai, não sei.
- Devíamos seguir com a tradição, Nana.
- Berna, tens a certeza?
- Sim. Fica quieta. - Falou, imperativo, enquanto se ia aproximando ainda mais de mim, focando-me avidamente com os seus olhos escuros . Deixei de sentir a sua respiração embater na minha face e em poucos segundos, os seus lábios meio gretados pelo frio de inverno embateram nos meus, dando início a um beijo curto e desastrado. Mas o meu primeiro beijo.

Com o meu melhor amigo.

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