Dear Lover - [Capítulo 4]

- Nana! Oh meu Deus, tu estás tão diferente miúda! Estás loira, muito loira. E o que é feito das tuas … sardas? - O sorriso dela desapareceu, para dar lugar a uma cara de espanto.
- Está tudo bem, Maria?
- Está sim, não te preocupes. É só que já lá vai algum tempo e tu mudaste tanto. Da última vez que te vi ainda tinhas cabelo tão ou mais ruivo que o Ed Sheeran. - Gargalhei com a sua expressão. Ali estava a Maria. A mesma que andava sempre de olho em mim e no Bernardo sempre que o moreno fofinho largava a bola só para estar comigo. Vai dar em namoro, dizia ela. Nunca lhe respondemos, mas de qualquer maneira, nunca poderíamos. - Mas bem, estás muito linda, miúda! Sabes que o Bernardo sempre adorou loiras? Tenho a certeza que se fosse hoje, dava em muito mais que uma simples amizade de criança. - Ela atirou, fazendo-me corar tão violentamente quanto possível para uma pessoa de pele clara como a minha.
- Maria!
- Ficas tão fofinha quando coras. Vamos agora? Os meus pais e a Chica estão mortinhos de saudades tuas.
- Ai meu Deus, tenho a certeza que a Chica já está uma mulher lindissima.
- Está mesmo. Mas só podia, tinha que sair à raça. Olha, estão ali! - Falou, apontando para uma mesa onde estavam sentadas 4 pessoas, que eu depreendi serem os seus pais, a Chica e ainda um outro rapaz. Muito rapidamente, a morena agarrou a minha mão fria e puxou-me até à mesa, fazendo-me correr tão desastradamente que se alguém me estivesse a observar iria com certeza rir-se da minha figura. Assim que chegamos mais perto da mesa, a Maria pigarreou, chamando a atenção das mesmas 4 pessoas que ocupavam a mesa. Assim que os seus pais me olharam, senti o meu mundo cair ao chão. A saudade voltou com toda a força, para me atormentar, e não pude evitar mas deixar cair algumas lágrimas.
- Caetana, és tu? - Perguntou, muito ternamente, a mulher mais velha. A mãe do Bernardo. Assenti ao de leve com a cabeça, fazendo a D. Maria levar as mãos ao meu rosto para me enxugar as lágrimas. - Meu amor, não chores. Parte-me o coração ver-te desse jeito.
- Desculpe, tia. É só que…
- É só que nada. Estamos aqui, todos juntos.
- Nem todos. - Atirou a pequena Francisca. - O Bernardo devia estar aqui. Agora está sempre ocupado com a Alicia.
- FRANCISCA! Ele esteve cá à muito pouco tempo!
- Ai esteve? - Perguntei, algo magoada, depois de ocupar o lugar imediatamente ao lado da morena mais nova.
- Esteve Nana. Veio cá numas mini-férias. - Atirou Paulo, o pai do jovem que ainda fazia o meu coração mirrar com a saudade. - Devíamos ter combinado este jantar nessa altura.  
- Hey, é completamente compreensível. Ele sempre que cá vêm quer é aproveitar a companhia das pessoas que mais lhe importam. - Atirei, fazendo o maior dos esforços para não chorar.
- Tu eras uma das pessoas que mais lhe importavam. - Francisca voltou a falar, olhando-me nos olhos. Aí eu pude ver a tristeza que tomava conta da pequena.
- Chica, tenho a certeza que ainda é. Só não se vêm à muito tempo.
- Tempo demais. - Sussurrei e, ainda que muito baixinho, a Maria captou as minhas palavras, lançando-me depois um olhar cheio de carinho e, ao mesmo tempo, de compreensão.
- Fazemos assim: o pai faz anos em Maio. E como vamos fazer uma festança, eu acho que os tios e a Caetana deveriam ser convidados.
- CLARO QUE SIM! - Paulo e Francisca falaram ao mesmo tempo, deveras apressados. - Por favoooooooooooor Nana. O Bernardo vai cá estar nesse dia. - A pequena falou, o mais baixo que conseguiu, ao mesmo tempo que me atirava um olhar de súplica.
- Depois eu vejo, Kika. Com a faculdade, é-me difícil conciliar tudo. Por isso não vou prometer nada, meu anjo.

O sorriso que brotou na sua face foi o suficiente para me dar alento para o resto da noite. Muitas coisas foram lembradas, muitas memórias foram trazidas ao de cima, deixando-me sempre um quê de emotiva. Era inevitável, tendo em conta que o meu peito se fazia doer sempre que as recordações de outrora e de um rapazinho muito franzino, de bola na mão, assomava à minha mente. Em cada uma dessas memórias, eu forçava-me a não deixar a minha parte fraca vencer. Guardava sempre a vontade de retroceder no tempo e mudar tudo o que havia sucedido. Talvez tudo fosse diferente - talvez o Bernardo ainda fosse uma constante na minha vida -, diferente para melhor contudo? Sempre achara que o destino é o grande guia em cada uma das nossas vidas mas, como seria ele capaz de nos fazer sofrer e chorar deste modo? Ou de cada vez que nos leva um alguém que nos é tão querido, para uma outra vida no além?
Nessa mesma noite, e à semelhança de muitas outras, deitei-me com as lágrimas. Lágrimas essas que brotaram dos olhos e caíram nas almofadas. Essas que por sua vez se apressaram a guardar mais um segredo meu: estava, irremediavelmente, a morrer de saudades do moreno.


**

Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2017

-Caetana, pronta para mais um dia de aulas?
- Não papá.
- Anda daí, estás quase quase no fim do curso. - Atirou, sorridente e brincalhão, enquanto me puxava do sofá da sala. - Preguicite aguda?
- Nope, é mesmo vontadite de ficar em casa - grave. - Uma gargalhada ecoou da sua garganta, fazendo o meu dia ficar bem melhor numa questão de segundos.
- Sempre a minha Nana.
- Anda daí, velhoteeee. - Brinquei, começando a correr até à garagem, esperando que o meu progenitor me seguisse. Poucos segundos depois estava a meu lado.
- Velhote nada, ainda consigo correr tão ou mais que tu.
- Sim, claro. Iludido.
- Iludido, eu?
- Claro. Só estamos os dois dentro deste carro e eu não ía estar a falar de mim na terceira pessoa, pai. - Deitei-lhe a língua de fora, ao que ele respondeu com outra gargalhada. Poucos minutos depois estávamos à porta da faculdade e eu preparei-me mentalmente para qualquer que fosse o decorrer do dia. Beijei o rosto do meu pai ao de leve e abri a porta, abandonando o carro de luxo. - Até logo pai.
- Até logo Nana.

Fechei a porta e dirigi-me à entrada do espaço escolar. Avistei a Benedita junto aos portões mas nem me dei ao trabalho de parar. Segui caminho até à sala que figurava no meu horário, já à muito decorado por mim, ignorando todas as chamadas da morena.
- CAETANA, PORRA! OLHA PRA MIM!
- Mas que raios queres tu?
- Já não me falas desde a semana passada. Está tudo bem?
- Estás a brincar com a minha cara? Já deixei de ser uma miúda mimada, foi?
- Hey, eu sei que estive mal mas…
- Mas nada! Se tu pensas isso de mim, é porque não me conheces tão bem quanto ambas pensamos.
- Caetana.
- Caetana nada! Desaparece.
- Desculpa!

Olhei a morena à minha frente e toda ela refletia arrependimento. Contudo, não disse nada. Voltei a ignorá-la e a refazer todo o meu trajecto até à dita sala. Todas as discussões e o reencontro com os pais do Bernardo estava a afectar-me mais do que o suposto. Mas só de pensar que tudo isto tinha começado por causa de uma estúpida noite com um rapaz desconhecido, voltava a fazer-me sentir arrependida de ter saído de casa naquela fria noite de fevereiro. Se tivesse teimado com a Benedita e ficado em casa, talvez não estivesse tão melancólica. Mas só talvez.
Durante o dia, principalmente à hora de almoço, a morena acompanhou-me, sem dizer palavra. Como se de uma sombra se tratasse. Limitei-me a continuar a ignorar a mesma, mesmo contando com o facto de que o nosso grupo de amigos nesta escola era tão pequeno que se reduzia ás duas. Assim que chegou à hora de saída, acorri ao portão e procurei, com o olhar, o carro do meu pai. Sem sucesso. Fiz-me ao caminho. Aliás, era tão curto que podia sequer arriscar a percorrê-lo todos os dias. Ou não. Depende. Assim que cheguei à mansão que eu tão carinhosamente apelidava de lar, apressei-me a bater à porta, que foi prontamente aberta pela Anabela.

- Boas tardes Anabela.
- Boa tarde menina. Deseja alguma coisa para o lanche?
- Sim, por favor!
- Algo de especial?
- Surpreende-me. - Atirei, com um sorriso, para a governanta da casa, que se limitou a assentir, de sorriso também rasgado no rosto. Momentos depois, a mesma estava a pousar um prato com uma valente fatia de bolo de cenoura e uma caneca de chocolate quente, como ela sabia ser o meu lanche favorito dos dias de inverno. - Bela, tu és a melhor. Obrigada!
- Não tem que agradecer, menina. Algo me dizia que andava a precisar de um miminho.
- Conheces-me tão mas tão bem! - Nesse preciso momento, a campainha fez-se soar pela casa. - Anabela, eu vou lá, deixa estar.
- A menina tem a certeza?

- Sim, fica descansada. - Aproximei-me dela, deixando-lhe um abraço muito casto, e acorri à porta, deparando-me com uma Maria algo cansada do outro lado. - Maria?!

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