Dear Lover - [Capítulo 1]

" O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental"."
"Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar."
"O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende."
"O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber."
"A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também." 
******
Bolas, não estava mesmo na disposição de sair. Sim. Eu, Caetana Marques, que habitualmente seria a primeira a sugerir uma volta por Lisboa à noite, estava desta feita no mood das pantufas nos pés, chocolate quente numa mão e o último livro que adquiri na outra. Mas promessas são promessas e neste momento estava a abandonar as minhas tão adoráveis e queridas pantufas neste frio dia de Fevereiro, e a calçar uns sapatos de salto pretos que raios, em nada me aqueciam os pés. Agarrei na minha bolsa e no meu casaco cardado preto e dirigi-me para a porta do meu prédio, onde a Benedita já me aguardava - impaciente como sempre.
- Então miúda, pronta?
- Não. Eu queria mesmo era ficar na cama, Benny, já sabes.
- Vais ver que no fim da noite vais estar a agradecer-me por te ter arrastado hoje.
- Oh, definitivamente que vamos ver.

**

A Benedita tinha razão, como muitas outras vezes. Ou seria a bebida a falar por mim? De qualquer maneira, peguei no copo à minha frente e concentrei-me no líquido que o preenchia, sorvendo mais um golo. Foi então que o vi: o rosto escondido pela barba e os olhos escuros, que pareciam absorver toda a luz à sua volta qual buraco negro absorve energia. Um pequeno sorriso irrompeu nos seus lábios e eu retribuí, incitando o jovem dono do olhar negro a percorrer toda a distância que nos separava num curto espaço de tempo.
- Olá. - Mesmo com todo o barulho, consegui escutar perfeitamente bem a sua voz rouca e bem, se não tivesse já tocada pela bebida, aquela sílaba teria sido o suficiente para me induzir num estado psicotrópico.
- Olá. Caetana!
- Eu sou o Bernardo!

**

"Vais ver que no fim da noite me vais agradecer." O caraças, é que vou agradecer. Maldita a hora em que concordara com a Benedita, agora não aguentava a cabeça. A mesma que se queixou assim que o meu telemóvel me fez o favor de começar a notar (notar a ironia).
Caetana, onde estás filha?
- Hum, bom dia para tia também pai. Como assim, onde estou? Combinamos alguma coisa para hoje?
- Caetana! É o aniversário do Rafael - foda-se, esqueci-me do meu irmão, de novo! - e ficamos de almoçar cá em casa todos juntos.
- Pois foi, tens razão. Cabeça a minha. Daqui a pouco mais de meia hora estou aí, pai.
- Está bem, conduz com cuidado, minha filha.

Nem disse mais nada, desliguei. Sentia-me terrivelmente mal por ter feito isto ao meu irmão, outra vez, quando ele era o primeiro a lembrar-se de mim no meu dia.
- Podias ter falado mais baixo! - Os meus olhos arregalaram assim que escutei uma voz rouca. Algo a medo, olhei para o lado e avistei o mesmo rapaz da noite passada.
- Bom dia para ti também, idiota! Levanta-te, tenho de me despachar. - falei, olhando o moreno incisivamente.
- É assim que tratas os hóspedes? Tenho pelo menos direito a pequeno almoço?
- Se te despachares, pode ser que te ofereça um copo de água e uma fatia de pão.
- Uhm, rude.
- Coitadinho, chora mais. - Os minutos passavam e o idiota não se levantava da cama, deixando-me impaciente. - É assim, Gustavo, Roberto ou lá o caraças que seja o teu nome: eu tenho um compromisso importante daqui a meia hora e na verdade eu ainda estou aqui porque tu não trouxeste o teu carro, deixaste-o algures no Estoril. Por isso, se não queres ficar perdido aqui na zona, é bom que mexas esse rabo e te despaches.
- É Bernardo. Berraste o meu nome tantas vezes a noite passada e não o conseguiste decorar?
- De tudo o que eu te disse, só conseguiste reter isso? Bolas. - Com a maior rapidez possível, selecionei um conjunto semi-formal e vesti-me, enquanto o idiota se mantinha no mesmo sítio. - Vais ficar aí a olhar para mim?
- Nem estou muito mal de vistas, não.
- Tens 5 minutos para estar fora da porta do meu quarto, idiota!
- Ok madame. 


*****

Aqui está o meu novo trabalho. Juro que nunca nesta vida ou numa próxima qualquer pensava sequer em escrever sobre o Bernardo - não porque tenho algo contra o miúdo mas simplesmente porque lhe tenho tanto carinho que nunca julguei ser capaz de formular uma qualquer ideia, por mais mínima que fosse, para uma história sobre ele. 
Espero que gostem tanto ou mais como estou a gostar de a escrever. Vai ser publicada devagarinho e com capítulos algo curtos. Desculpem-me desde já por isso, mas estou já a avisar-vos porque, por vezes, as ideias não são muito minhas amigas e vão de férias sem me levar. Mas enquanto eu publicar, adorava que me fossem deixando as vossas opiniões 
Sem mais de momento,
M. Ribeiro

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