Dear Lover - [Capítulo 2]

- É Bernardo. Berraste o meu nome tantas vezes a noite passada e não o conseguiste decorar?
- De tudo o que eu te disse, só conseguiste reter isso? Bolas. - Com a maior rapidez possível, selecionei um conjunto semi-formal e vesti-me, enquanto o idiota se mantinha no mesmo sítio. - Vais ficar aí a olhar para mim?
- Nem estou muito mal de vistas, não.
- Tens 5 minutos para estar fora da porta do meu quarto, idiota!
- Ok madame.


**
-Seja bem aparecido, menino Bernardo.
- Olá para ti também Maria.
- Estás muito bem disposto.
- É, podemos dizer que a noite me correu bem.
- Porquê? Já falaste com a Alicia?
- Hummmm, não.
- Bernardo!
- Que foi?
- Outra vez?
- Quê que eu posso dizer? Elas não me resistem.
- Como é que ela se chama, pelo menos?
- Tem um nome muito peculiar. Caetana, acho eu. É isso, é Caetana porque me faz lembrar da…
- Nana. - Diz ela, de semblante chocado. De facto, nunca me tinha lembrado deste pequeno grande factor, até agora pelo menos.
- Bernardo, como é que ela era?
- Maria, tu não podes estar a insinuar que eu não reconheci a minha amiga de infância e me meti na cama com ela!
- Bernardo, como raios é que ela era?
- Era loira, olhos clarinhos, azuis acinzentados acho. Não perdi muito tempo a olhar a cara dela. Mas não pode ser a Nana, Maria. A Nana tinha cabelos muito ruivos e olhos esverdeados, para não falar das sardas na cara. Além disso, se fosse ela sabes perfeitamente que me teria reconhecido.
- Porquê? Porque te tornaste um jogador mundialmente conhecido?
- Isso também, mas estava a referir-me ao facto de eu pouco ou nada ter mudado.
- Tens razão. Vá, vamos almoçar que os pais estão à nossa espera.

***

Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2017


Não sei se fico contente porque o maldito curso de Gestão está a acabar ou se fico feliz porque o raio do curso de Gestão está a acabar. Sim, claro que estou a estudar numa área que adoro mas porra, já chateia. Não vejo a hora de entrar no mercado de trabalho, ser uma grande gestora como sempre disse ao meu pai. E ao Berna. Já não me lembrava dele. Não até à noite em que um atraente homem de nome Bernardo acordou a meu lado, na minha cama. Até aí havia-me esforçado tanto para poupar o meu pobre coração do esquecimento que não me recordava mais do pequeno e adorável miúdo que adorava a bola mais que tudo e que só parava de jogar futebol para comer o tão saboroso bolo de chocolate que a tia Maria tão bem fazia. Agora, o mesmo pobre coração chora de novo pelo esquecimento a que foi deitado. Na verdade, nunca soube o porquê deste abandono. Só anos mais tarde, quando me cruzei com o tio Paulo e a Tia Maria em Lisboa é que fiquei a saber quais as razões que levaram o meu melhor amigo para longe de mim. Nesse dia, no meio de cafés e pastéis de nata, muitas lágrimas rolaram pela minha face, muito pela saudade. Desde aí, nunca mais cortei relações com essa família que me era tão querida. Mas o Bernardo, esse, nunca mais o vi.


- Caetana, filha, estás pronta? - perguntou o meu pai, interrompendo os meus pensamentos saudosistas. Levantei o olhar da mesa recheada até dar com a sua face pouco envelhecida pelo tempo. Já não me lembrava de pernoitar nesta casa, o meu tão querido lar de infância, cujas paredes foram muitas vezes testemunhas das minhas tardes de brincadeira com o Bernardo. E lá estou eu de novo. Lembrei-me que o meu pai ainda aguardava a minha resposta. Esbocei um sorriso e acenei, levemente, de forma a dar uma resposta afirmativa ao meu progenitor. - Está tudo bem?
- Está pai. Porquê?
- Sei lá. Só pelo simples facto de me parecer que andas aí a cair pelos cantos.
- Pai, está tudo bem.
- Meu amor, olha para mim. Tu saíste de casa quando começaste a estudar. Cresceste depressa, mas continuas a ser a minha Nana, aquela que eu conheço tão bem ou melhor que a mim mesmo. Por isso sim, eu que algo se passa.
- Nana… Já não ouvia esse nome desde que ele foi embora pai.
- São as saudades, é isso?
- Hm hm, nada mais que isso! - Assenti, de olhos marejados.
- Quero que saibas que esta será sempre a tua casa e o meu colo está sempre aqui para ti.
- Obrigada papá. - Abracei-o, e nele encontrei o mesmo conforto de todas as outras vezes, todas aquelas em que o meu coração inquieto procurava paz.
- De nada. Vamos?

- Vamos. - De sorriso e braço dado, fizemos o caminho até à garagem. Durante o caminho até à faculdade, fomos cantarolando as músicas que soavam na rádio, como nos bons velhos tempos. Mais uma vez, o meu pensamento fugiu para as memórias antigas.

flashback

- Meninos apertem os cintos. - Falou o papá, sempre de sorriso na cara.
- Nana, não consigo!
- Nunca consegues, Berna.
- Se continuas a gozar contigo faço-te cócegas.
- Não eras capaz! - falei de maneira provocativa para o rapaz de cara fofinha que me encarava com um sorriso gozista. - Deixa lá que eu ajudo-te. - Aproximei-me dele e apertei o cinto, dando por terminada a minha tarefa. O Berna olhou-me muito carinhosamente e deixou-me um casto beijo na testa, o tradicional gesto de agradecimento ou despedida dele para comigo.
- Obrigada Nana. - De repente, começou a dar uma das minhas músicas favoritas na rádio. Comecei a cantar o melhor que pude - uma criança de 11 anos a cantar inglês, onde já se viu né -, fazendo o rapaz a meu lado encarar-me com olhar de súplica. - Tio Henrique, por favor, mude a música. A Nana está a cantar!
- Estúpido!
- Caetana! Pede desculpa ao Bernardo.
- Não peço, ele disse que eu canto mal.
- Não disse não!
- Indirectamente sim.
- Desculpa Nana.
- Desculpa Berna. - Novamente, de forma muito carinhosa, beijou-me a testa. Encarou-me, sorrindo, enquanto a sua mão esquerda fazia todo o trajecto para alcançar a minha mão que se encontrava entre nós.

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